Mercedes Voador - Uma lição de aerodinâmica


Lembram-se deste episódio em 1999? Nem amortecedores Bilstein ou travões ATE iam safar estes rapazes. Os travões e a suspensão ajudam muito mas a partir de uma certa velocidade o ar que respiramos passa também a ser um factor muito importante.

2008/3/3 – Mensagem de um amigo

Caro Engenheiro dos travões e amortecedores,

Porque é que os Mercedes CLK levantaram voo há uns anos em Le Mans e porque é que o ACO (organizador das 24 de Le Mans) resolveu o problema com um fundo do chassis com 2 tuneis na zona média até á traseira em vez dos normais fundos planos com difusor no fim?
Abraço

2008/3/11 Pedro Rosa – Mou Chin Racing <pedro.rosa@mouchinracing.com>

Bem vou por partes então, vamos ver se atino nesta.

1 - Os Mercedes em Mulsanne levantaram voo (fliparam) porque perderam downforce (carga aerodinâmica) no eixo dianteiro. Perderam esse downforce porque vinham atrás de outros carros, o que é normal mas não devia ter consequências tão catastróficas.

2 - Qual era o problema? Segundo o que sei os carros tinham o centro de pressão aerodinâmico demasiado recuados o que os fazia ter aquele atitude de nose-up quando perdiam o downforce à frente. Porque os faziam assim? Provavelmente era o melhor equilibrio para reduzir o drag (arrasto), penso eu mas não tenho certeza.

3 - Agora as regras do ACO. Com dois túneis no fundo plano a partir do meio do carro o ar que passar por baixo deve desacelerar a partir do meio do carro certo? Portanto à frente tens o ar bastante rápido por baixo do carro a criar uma depressão (downforce) e atrás por baixo do carro tens lift (ou redução de downforce) porque o ar está mais lento. Assim o centro de pressão aerodinâmica avança para a frente do carro reduzindo as hipóteses do flip quando seguimos outros carros.

Estive perto?
Ab
Pedro Rosa


2008/3/12 – Mensagem de um amigo

Está 100% certo. A paranóia dos fundos planos teve como consequência centros de pressão muito recuados e com a necessidade de reduzir o drag nas rectas, os carros estavam afinados para andarem em rake (diferença de inclinação entre o eixo dianteiro e traseiro) perto de zero o que criava a possibilidade de entrarem em rake negativo. Rake negativo implicava que o ar que entrava não tinha como sair, principalmente por causa da traseira longa que se aproximava do chão, o que obrigava o carro a descolar.
Os túneis dão espaço ao ar para sair seja qual for o ângulo do carro com o asfalto.